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Música Clássica
O que é música clássica? Você está entrando num site que tenta responder a esta pergunta, criando uma grande amizade entre você e esta fabulosa criação humana.
Existem vários tipos de música:
Música folclórica, que vem com a tradição e não se sabe quem criou.
Música popular, que todos conhecem, sabe-se quem compôs e faz parte do nosso
dia a dia.
Música clássica que, vem a ser composições mais complexas, para instrumentos ou vozes, orquestras inteiras ou formações menores, que são todas classificadas como
música erudita.
Há uma grande diferença entre música popular e música clássica. Na popular, a gente pode interferir, criar variações, improvisar na hora, bastando se ater à
melodia. No caso de jazz, as mudanças fazem a música. Mas na música clássica, o compositor escreveu na forma que o executante precisa tocar. Não se pode mudar nenhuma "bolinha" escrita.
Assim, a musica clássica é um pouco mais exigente. Ela espera silêncio e concentração, às vezes ela possui várias partes, que são chamadas de “movimentos”, e não é bom aplaudir entre os movimentos. Aplaude-se somente no final.
Nosso objetivo é conhecer e entender as diversas formas usadas pelos compositores. Conheceremos o que é sonata, sinfonia, trio, quarteto, aberturas, variações, árias de óperas.
Nosso intenção não é contar a história da música. Mas sim alinhavar importantes criações, um pouco mais explicadas, para que você sinta a importância (e a beleza) de cada uma, enriquecendo sua vida.
PROGRAMA 1
Neste primeiro programa de abertura vamos falar de uma modalidade musical que se chama...abertura!
Por que razão um compositor cria uma abertura?
Às vezes para dar início a uma ópera, por exemplo. E nesse caso o compositor Rossini brilha como ninguém. Geralmente nessas aberturas, já são apresentados temas que se seguirão na ópera. Às vezes as aberturas são peças sem conexão com o que se seguirá. Nestes casos, as aberturas não são seguidas de
nada, são apenas um início musical. Assim são duas aberturas de Brahms: Abertura para um Festival Acadêmico e Abertura Trágica, com atmosferas muito diferentes, claro.
Hoje vamos começar com uma peça de Beethoven. Neste ano, ele está completando 250 anos de nascimento. Este nome terá presença marcante nos nossos comentários. Depois de Beethoven a música se modificou, se expandiu de uma forma imensa. Ele era revolucionário, no melhor dos sentidos, se insurgia contra as políticas opressivas dos tiranos. Depois de deparar com uma peça teatral do escritor alemão Goethe, Beethoven decidiu criar uma música para o herói Egmont. O conde Egmont era um flamengo e se revoltava contra a dominação opressiva que a Espanha impunha aos flamengos. Isso acontecia em 1568. Foi preso e executado.
Beethoven decidiu começar sua abertura utilizando um ritmo espanhol que se chamava chaconne. As chaconnes começavam com duas batidas fortes seguidas de outras duas. Pois Beethoven iniciou a composição com essas duas mais duas batidas, mas de forma agressiva e cortante, significando o quanto os espanhóis oprimiam o povo flamengo. Segue-se uma luta de sons, com repetições, até que um ponto crucial sugere a execução. Do silêncio que se segue vai brotando um som (que são as idéias de Egmont, que não morreram) e essa linha melódica vai se afirmando, crescendo até um finale vitorioso.
Nossos exemplos musicais sugeridos são sempre do YouTube.
Tente identificar os detalhes na abertura Egmont que vamos ouvir agora:
Curiosidades sobre Beethoven:
Pelo seu temperamento ( e pela sua surdez) Beethoven tem passagens curiosas. Uma vez, num desfile com a presença do rei, todos os homens tiravam o chapéu na sua passagem. Beethoven não tirou, Perguntaram-lhe: “Você não tira o chapéu para o rei?” Beethoven respondeu: “Eu não. ´É ele que tem que tirar o chapéu para mim.”
Outra vez, ao visitar um irmão mais jovem que ele, muito rico,
Beethoven recebeu um cartão de visita onde se lia “Johan Van
Beethoven. Proprietário de terras” Beethoven pegou o cartão e
escreveu no verso:”Ludwig Van Beethoven, Proprietário de um
cérebro”.
A vida de Beethoven envolve o nome de muitas mulheres.
Quem era a “Elisa” da belíssima música “Fur Elise”? Possivelmente
uma cantora chamada Elizabeth Rockel. Quem era a Amada Imortal,
para quem ele deixou uma carta cheia de paixão e arrebatamento?
Talvez Antonie Brentano. O que sabe com certeza é que ele escreveu
a Sonata número 24, opus 78, dedicando-a a Therèse Von Brunswic,
uma Sonata que tem enorme delicadeza amorosa, e que é até
conhecida como Sonata a Therèse.
A 5ª Sinfonia, a do “Tchan- tchan- tchan Tchaaan, já serviu
até para comerciais de gilete de barbear.
PROGRAMA 2 | A FORMA SONATA
Todos já ouviram uma sonata. Trata-se de uma peça para ser tocada num instrumento. O nome, obviamente vem do latim “sonare”, ou seja soar. Ao contrário da forma Cantata que foi feita para ser cantada (por um ou mais solistas, com ou sem coro.)
A forma sonata tem uma papel da maior importância na história da música. À medida que os instrumentos ganhavam novos recursos, os compositores compunham mais complexas e belas sonatas. A Sonata acompanha a história da música em todos os seus estilos: o Barroco (entre 1560 e 1720), período fértil para a música; o Classicismo entre 1720 até 1800), com formas mais rígidas; o romantismo (de 1800 até 1880), o impressionismo que abre as portas para o modernismo.
Hoje vamos entender a Sonata Barroca: o Barroco é um período de muita riqueza, grande força na Igreja e na religião, e música bastante enfeitada, cheia de vozes uma seguindo a outra (e formando as fugas). Bach (deste período, é o mais rico e coerente compositor, que veremos mais adiante).
Deste período.Alessandro Scarlatti produziu inúmeras óperas e cantatas. Era pai de Domenico Scarlatti.
Domenico era um cravista espantoso.
Ele foi contratado pelo rei da Espanha para ensinar cravo para a
princesa Maria Bárbara. O cravo era o mais avançado teclado da época,
mas era diferente do atual piano, porque o som era obtido por pinças
que “beliscavam” as cordas. Ao passo que o piano tem martelos que
tangem as cordas. Também as teclas do piano, que hoje são brancas,
eram pretas no cravo. E as teclas de sustenidos eram brancas (hoje
no piano, elas são pretas). O cravo tinha registros que permitiam
alterar as sonoridades. Com o cravo começou a maravilha
( e o tormento) de dominar a técnica dó teclado. Scarlatti era
mestre em trinados, oitavas, escalas, acordes, melodias inacreditáveis
e harmonias (entre acordes) que até hoje nos deixam assombrados
pela criatividade e beleza. Scarlatti escreveu cerca de 600 sonatas,
muitas foram perdidas.
Todas as sonatas de Scarlatti têm um movimeno, dividido em duas partes.
Curiosidades sobre Scarlatti:
- Por incrível que pareça três gênios do período barroco nas- ceram no mesmo ano. Veja só:Johan Sebastian Bach, Handel e Scarlatti nasceram em 1685.
- Uma das músicas mais tocadas de Scarlatti ( na verdade é para estudar a dificílima técnica da mesma nota repetida) é a Sonata em Re. A repetição sugere castanholas.a pianista Martha Argerich é exímia em tocá-la. Peça Scarlatti Sonata em D m K 141 gravação de 1983.
- Em 1721 Scarlatti (nesta altura um cravista renomado) estando no Castelo do conde Ottoboni em Roma, encontrou-se com Georg Frederich Handel e decidiram competir para saber quem era o melhor cravista. Scarlatti ganhou, no cravo, embora tenha perdido ao competir com execuções no órgão. Scarlatti passou a referir-se a Handel como sendo um gênio.
PROGRAMA 3 | HAYDN E A SONATA CLÁSSICA
Por volta de 1760, o barroco passou a ser considerado pesado, carregado de vozes na música, e até difícil de se apreciar. O mundo ocidental estava mudando. A filosofia pregava a razão, mas com mais clareza. Enquanto isso, na música, novos instrumentos surgiam, ou eram aperfeiçoados, e até foi criado um novo tipo de teclado chamado pianoforte. Ele oferecia efeitos musicais que o cravo não permitia: diferenças entre forte e piano (sons de baixo volume), e também legato e stacato. Agora as melodias podiam contar com crescendos e diminuendos. A voz da melodia podia subir acima do acompanhamento. ) estilo tinha que ter clareza, simetria, elegância.
Entre todos os músicos, um deles foi fundamental para o estilo que surgia: Joseph Haydn. Sua música obedecia a regras, que ele mesmo criou: as sonatas tinham que ter uma estrutura lógica: no primeiro movimento (o mais longo) começar com um tema, continuar com outro tema (que podia ser o oposto do inicial), depois fazer um significativo desenvolvimento destes temas, em seguida repeti-los fazendo uma revisão e finalmente concluir com a coda (últimas notas). Tudo isto num primeiro movimento, porque a sonata passou a ter mais do que um movimento. Com todos os recursos do piano, os músicos podiam compor outros movimentos menores, por exemplo: um allegro, ou um andante, ou um minueto (dança nobre de salão) e terminar com um presto. Isto agradava os nobres e a música passou a ter uma presença que significava status nos salões.
A vida de Haydn não foi fácil. Aos seis anos foi separado da família para cantar no coro como soprano, em outra cidade. Tinha aulas de música e violino Aos 18 anos perdeu seu emprego porque sua voz se modificara. Compunha músicas e tocava em salões para se sustentar. Foi estudar composição com o maestro Porpora e foi se tornando conhecido.
Mas sua vida mudou quando passou a trabalhar para a família Ezsterházy, onde foi ajudado, primeiro pelo príncipe Paul Anton Esterhazy. \Depois, com o príncipe Nicholas Esterhazy, com quem manteve uma privilegiada relação de trabalho por mais de 30 anos. Para tanto, Haydn dispunha de uma orquestra! Criava sinfonias para eventos, ou música religiosa quando necessário.
Em 1781 conheceu Mozart em Viena e ficou impressionado com o jovem gênio. Haydn tinha 24 anos a mais do que Mozart. Tornaram-se amigos e com enorme admiração mútua. Haydn continuava a criar sonatas, sinfonias, oratórios e quartetos. Tornou-se o “Pai da Sinfonia” e o “Pai do quarteto”, por estabelecer regras para estes dois tipos de formação.
Em termos de Sonatas, Haydn escreveu mais de 60, sempre seguindo a estrutura de quatro movimentos (às vezes três).
Vamos ouvir uma sonata com três movimentos e entendê-los: trata-se da Sonata em Si menor;
Primeiro movimento: tema incisivo, pontudo, stacatto, segundo tema: mais legato e menos pontudo. Desenvolvimento dos dois temas até conclusão.
Segundo movimento: Andante calmo e melódico, em contraste com o começo.
Terceiro movimento: volta o staccato em um“saltarello”rápido e brilhante, muito bonito. Esta clareza não poderia ser obtida se fosse no cravo. Os três movimentos se ligam e têm um significado que cada um de nós sentirá pessoalmente.
Outras sonatas de Haydn que você poderá ouvir: a maravilhosa Sonata em Mi bemol Maior tocada por Alfred Brendel.
Tem três movimentos cheios de espírito e humor, Infelizmente somente temos no You Tube o primeiro movimento, O segundo tem um intermezzo muito romântico e o terceiro é um Minueto. Escolha outras sonatas. Você vai entender a simetria, a elegância, e o humor de Haydn em tudo que escreveu.
Curiosidades sobre Haydn:
Ele era muito alegre e brincalhão, mas quando moço conhecido por contar piadas inconvenientes. Isto mudou quando teve que se comportar nos palácios dos Esterhazy.
Era extremamente religioso. Sempre que tinha dificuldades, rezava o terço. Ao começar uma obra escrevia “Em nome de Deus”. Quando terminava cada obra sempre agradecia “Laudate Domino” ( “Louvado seja o Senhor”)
Era baixinho e tido como feio para os padrões da época, mas quando esteve em Londres ( e era considerado o maior compositor vivo), sempre era seguido pelas damas.
Era difícil nos negócios, porque sempre queria ganhar ao máximo. Às vezes era um tanto fraudulento, vendendo a mesma obra para mais de um comprador.
Apesar de ter escrito 104 Sinfonias (como veremos bem adiante), 68 quartetos, 32 trios e mais de 60 Sonatas, quando parou de trabalhar se queixava de que continuava tendo idéias, mas não tinha mais forças para escrevê-las.